terça-feira, 21 de março de 2017

A Lapônia é conhecida no Brasil como um lugar muito frio no norte da Europa e também como a terra do Papai Noel. E os brasileiros não estão enganados. A Lapônia é bem fria, e a mais famosa casa do Papai Noel (ou Joulupukki, como se diz por lá) fica em Rovaniemi, na Finlândia. Mas a Lapônia não cobre apenas esse país. Na verdade, além da Finlândia, ela ocupa o norte da Noruega e da Suécia. O povo indígena da região se chama Sami. Suas roupas e arquitetura são bem típicas, como se pode ver na foto abaixo. A temperatura da região raramente supera os 15°C no verão e durante o inverno pode chegar aos -50°C. Durante o inverno, o sol não aparece por vários dias, de acordo com a latitude. E o contrário acontece no verão, quando o sol passa vários dias sem sair do horizonte, fenômeno conhecido como sol da meia-noite. Em Saariselkä esses fenômenos duram exatos 40 dias.

Outro fenômeno ainda mais interessante na região é a aurora boreal, que pode ser avistada durante os meses de inverno. Durante essa estação, a aurora pode ser vista quase todas as noites, caso o céu não esteja nublado. E essa é a complicação pois dias e noites nubladas e com muita neve caindo são a maioria durante o inverno por lá. E com o desejo de ver a aurora, eu e a Rocio decidimos passar uma semana por lá.



Caminhando pela cidade
Bandeira da Lapônia
Os Sami





Como já mencionei, a Lapônia é bem grande e escolher aonde ir é mais ou menos como querer visitar uma praia do nordeste do Brasil. O leque de opções é imenso. O que levamos em conta é que como é difícil ver a aurora, não queríamos fazer uma viagem pensando exclusivamente nisso, pois caso não conseguíssemos ficaríamos bem decepcionados. Inicialmente pensamos em ir à Tromsø, na Noruega, mas acabamos mudando de idéia pra tentar fazer uma viagem mais barata. A segunda idéia era Rovaniemi, na Finlândia, mas preferimos algo mais com cara de vila pequena mesmo. Algo importante de se observar é que os países escandinavos já são bem caros e os preços sobem ainda mais no norte. A Noruega é absurdamente cara enquanto a Finlândia e a Suécia são um pouco mais em conta. Acabamos escolhendo a vila de Saariselkä por estar próxima ao parque nacional Urho Kekkonen, assim teríamos bastante coisa para se fazer durante o dia e tentaríamos ver a aurora durante à noite. O legal do parque é que te permite fazer algumas atividades sem pagar nada.



Saariselkaä no mapa, latitude 68°

A maneira mais fácil de chegar à Saariselkä e voar até Ivalo (o aeroporto mais ao norte da Europa) e depois seguir de ônibus até lá. A viagem de Helsinki, capital da Finlândia, à Ivalo dura um pouco mais de uma hora e a viagem de ônibus até Saariselkä leva 20 minutos a mais e custa 10. Nos hospedamos em um hotel chamado Saariselkä Inn, que fica bem no centro da vila. Existem várias opções mais afastadas, inclusive com teto de vidro para ver a aurora. Mas como não iríamos alugar carro preferimos um lugar mais central. A idéia de alugar carro é interessante já que te dá muito mais liberdade. Nos permitiria dirigir até o oceano ártico ou até Rovaniemi, mas não me animei muito a dirigir pelo gelo não!

Já chegando ao aeroporto vimos uma quantidade absurda de neve e essa é a realidade da cidade por no mínimo 6 meses por ano, já que os invernos na região são bem longos. Para ser ter uma idéia, a temperatura média por lá durante o mês de janeiro é -15°C! E isso é temperatura média. Antes de chegarmos eu estava até preocupado pois poucas semanas antes, a temperatura estava sempre em -25°C ou -35°C, e nós não temos roupa pra tanto frio. Mas por sorte, durante nossos dias por lá a temperatura se manteve bem mais amena.

Mas vamos ao mais importante, o que fazer por Saariselkä!


Como já disse, a atividade mais concorrida durante à noite é "caçar" a aurora. Como a poluição luminosa atrapalha, o ideal é se afastar alguns quilômetros da cidade. As agências de viagem faziam passeios em snowmobile, renas ou ônibus. Os preços eram muito salgados, em torno de €100 ou mais, o que me pareceu um assalto à mão armada. E o que é pior, se você não ver a aurora eles não te devolvem o dinheiro, o que é comum em outros lugares. Acabamos encontrando uma trilha pra se fazer caminhada durante a noite que nos levava a um mirante chamado Aurora. Era só seguir ao sul da cidade e seguir as placas que te guiavam até lá. E que mirante! O lugar era grátis, com sofás de couro e até lareira! O lugar parece o lobby de um hotel de luxo e tudo grátis! Eu fiquei imaginando quanto tempo isso duraria pelo Brasil...


Apenas conseguimos ver a aurora durante a segunda noite da viagem, e mesmo assim não foi tão forte, já que o céu estava um pouco nublado. Uma dica importante é que câmeras de celular não servem pra tirar foto, com exceção de alguns apps especiais que tem um resultado bem mais ou menos... Eu usei um app chamado Northern Lights e apesar de ter um resultado razoável eu tinha que segurar o celular durante uns 15 segundos (que é o tempo que o app leva pra tirar a foto) enquanto a mão congelava.



Aurora boreal
15 minutos depois, um pouco mais fraca

A atividade mais comum durante o dia é o cross country ski. Há mais de 200 km de trilha por lá. Eu já tinha visto algumas pessoas praticando em outros lugares mas por lá essa modalidade é a mais comum. Pra quem não conhece, a idéia do cross country é um ski para caminhada, lembrando que no inverno é praticamente impossível caminhar normalmente pelas trilhas. O ski só agarra a sua bota na parte da frente, deixando o calcanhar livre. Além disso, o equipamento é muito mais leve e confortável do que o de ski alpino (o de descer montanhas).

Eu e a Rocio decidimos testar quando fomos a Kiilopää, lugar de que falarei mais adiante. Ao alugar o equipamento o atendente nos perguntou se já o havíamos feito e lhe dissemos que apenas ski alpino. Ele sorriu e nos disse que ski alpino e cross country não tinham nada a ver! Ficamos um pouco receosos mas decidimos tentar. E não é que algumas horas depois totalizamos mais de 10 km de trilha em nosso primeiro dia. E a verdade é que achamos a atividade bem legal. Eu tinha um pouco de preconceito antes e achava meio chato mas depois que provei, adorei. Durante a trilha nevava bem forte e algo bem legal e comum por lá são refúgios no meio da trilha. Os refúgios são casinhas de madeira com uma lareira no meio. E o costume local é levar salsichas e linguiças e assá-las por lá. Nós não conhecíamos esse costume e ficamos comendo nossos sanduíches com um pouco de inveja dos locais!



Tentando agarrar a mão do cross country
Refúgio pelas trilhas

Outra atividade é o ski alpino, já que há uma estação por lá. Infelizmente a elevação é muito pouca e as pistas são bem curtas. O legal é que como neva bastante, a qualidade da neve é incrível. Há também um ski park com muitas rampas, corrimões e tudo o que você imaginar, garantindo que o lugar não seja apenas para principiantes. O passe custa mais ou menos €30 por dia. Na estação também são realizadas muitas competições de esportes de neve. Inclusive enquanto estivemos por lá assistimos a uma competição de curly (divertidíssimo! cough! cough!) e patinação.


Eu disse que havia muita neve?
Rocio com uma casa mostrando a tradicional arquitetura indígena local




E outra atividade bem comum é a sauna! Pra quem não sabe, a Finlândia é o país das saunas. Sauna, inclusive, é uma palavra Finlandesa. Há por lá mais ou menos 3 milhões de saunas para uma população de mais ou menos 5,5 milhões de habitantes! E a maneira deles de desfrutar a sauna é bem diferente da sauna. Primeiro, as pessoas entram completamente nuas! A exceção são as saunas mistas. Mas apesar de não haver visto, escutei que nas mais tradicionais também se entra nu. A temperatura é muito mais alta do que eu estava acostumado, entre 75°C e 100°C! E depois de um tempo na sauna, você sai para para um lugar frio, o que dependendo da estação envolve banho em um rio congelado!

A sauna mais legal que vimos ficava em  Kiilopää. A sauna era do tipo tradicional e usava lenha para aquecer as pedras. O local era um cômodo que olhando pelo lado de fora parecia minúsculo, mas dentro haviam mais ou menos 20 pessoas. A sensação era de claustrofobia total já que com exceção de alguns leds amarelos pras pessoas não tropeçarem nas escadas, não havia luz! A temperatura era 100°C e cada vez que alguém jogava água nas pedras subia uma onda de calor que tornava impossível respirar por alguns segundos! E depois de alguns minutos por lá o meu corpo estava tão quente que eu saia para fora e suportava a neve e até o lago congelado sem problemas.

E algo bem legal da sauna é que era o legal mais fácil pra bater papo com os locais. Peguei inclusive muitas dicas de atividade por lá. O pessoal se surpreendia um papo quando descobria que eu era do Brasil e a pergunta inevitável era: - o que você está fazendo por aqui? Rs.


Entrada da sauna
Lago congelado pra esfriar o corpo depois da sauna

Além dessas opções de atividade as agências de viagem ofereciam muitos passeios legais. Acabamos não fazendo nenhum pois achamos os preços salgados. As opções eram muitas e havia por exemplo: pesca em lago congelado, passeios de snowmobile de todos os tipos inclusive com a opção de chegar ao oceano ártico, caminhadas com raquetes, passeios de renas e uma outra infinidade de coisas!

E apesar de não ser tão grande quanto Rovaniemi, por exemplo, Saariselkä tinha seu charme. Além de estar próxima ao parque nacional Urho Kekkonen, a cidade conta com uma infraestrutura razoável para o seu porte. Tomamos bastante cerveja local (péssima! rs!) e comemos carne de rena. Aliás, esse é o tipo de carne mais comum por lá. O pub Panimo tinha uma noite razoavelmente agitada e quase sempre contava com música ao vivo.



Pub Panimo em um dia de temperatura amena
Nada como esquiar no meio de uma nevasca
No mirante da estação de ski
No café Porotupa

Finlândia - Saariselkä na Lapônia - FINAL

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